Vivendo ...

"Todo o homem saudável consegue ficar dois dias sem comer - sem a poesia, jamais."

Charles Baudelaire

sábado, 23 de julho de 2011

Vida morta

Por décadas temi a morte, não sabendo o que seria de mim após o meu último e fatídico suspiro. Pode parecer estranho para um homem de 27 anos o sofrimento antecipado e por tantos anos por algo que é simplesmente inevitável e encerra o ciclo de uma vida, nada mais que isso.
Mas a vida, em toda a sua rede de mistérios e revelações, acaba por nos tornar assim. Eu vi avós queridos partir, assim como tios, primos, grandes amigos, conhecidos e mestres amados. Nenhum deles jamais me preparou para a morte, mas todos me prepararam para vida, cada um a sua maneira, o que, de certa forma, só me trouxe mais medo de perder o ar que entra pelos meus pulmões a cada inspiração.
Levantar cedo todos os dias e estudar, assim como trabalhar ou procurar emprego é algo que não nos traz nada, além de um senso de dever cumprido. Mas a paixão, o calor e todos os bons sentimentos que vem junto com as pequenas sensações que tais atitudes provocam estão, quase sempre, mascarados por uma tristeza que não se explica, mas que se sente, profunda e virulenta.
Ao dormir, fechava os olhos e imaginava minha vida sem os meus pais. Era desesperador. Pior do que isso, eu imaginava como seria a vida sem mim. Morrer não estava nos meus planos. Faz tempo que não penso na morte. Não desta maneira. A morte era temida por ser misteriosa. Hoje temo a vida.
Ir para a cama todos os dias e não saber se contemplarei o seu sorriso, o seu toque ou os variáveis timbres da sua voz me deixa louco. O vazio é maior do que a morte. Era mais fácil viver com a incerteza do pós-vida do que com a incerteza do que vem pela frente agora. Esperar os dias passarem em inércia me faz querer desvendar o mistério da morte ainda mais rápido, na verdade, me faz até desejá-la, afinal, se não houver nada do outro lado, não preciso permanecer morto neste.
Entendes o que é isso? Sou eu um fraco por temer a morte ou sou um covarde por não encarar a vida em seus olhos? Não consigo levantar a cabeça, nem consigo cortar os pulsos. Sou um galho preso a uma árvore seca e morta a que chamo de vida, mas não saio dali por comodismo ou pura força da natureza.




Por Thiago Vieira

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