Vivendo ...

"Todo o homem saudável consegue ficar dois dias sem comer - sem a poesia, jamais."

Charles Baudelaire

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Boneca de Porcelana



Traços finos e delicados

Dominam tua face pura.

Aquele que te admira, jura

Que não possuis segredos guardados.


Teu olhar, porém, não me engana!


Por trás dele vejo uma princesa,

Doce, fiel e comportada à mesa,

E uma apaixonada fogosa na cama.


Tens a frigidez por insulto.

Amando cada minuto,

Como se último fosse...

Acaba-se, gaba-se, cala-se.

Estampas o prazer na tua secreta face,

Como se último fosse...


Thiago Liebknecht

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

A Henry David Thoreau




A vida tornou-se mais real!
Passei a viver os sonhos acordado,
Deixando somente para o final
A resposta à pergunta sobre o meu legado.

Não quero morrer e descobrir que não vivi!
Isso seria pior do que o inferno,
Onde ninguém jamais sorri
E todos os dias são de inverno.

Não nasci para ser forçado a nada!
Respiro a meu próprio jeito
- E, digo, faço-o bem feito!

Se um dia minha canção for cantada,
Que seja bela e sem choradeira,
Porém, acima de tudo, VERDADEIRA.


Por Thiago Liebknecht

terça-feira, 31 de julho de 2012

Soneto da última dança


 


O dia era limpo e claro
E a atmosfera das melhores,
O que tem sido raro
E em proporções cada vez menores.
 
A música era desconhecida,
Assim como o homem que a cantava,
Porém, em uma única investida,
Tirei pra dançar quem me encantava.
 
Passos rápidos e tímidos, de início,
Aceleraram a nossa respiração
E disfarçaram bem o palpitar do coração.
 
Era o fim de um mundo fictício...
A tão esperada última dança,
Transformando a tristeza em apagada lembrança.


Por Thiago Liebknecht

terça-feira, 10 de julho de 2012

Queira-me...








Não me veja somente pelo exterior
Não busque em mim uma mulher
Busque em mim A mulher

Não me queira para ser mais uma na tua vida
Queira-me para se A mulher da tua vida
Queira-me para te fazer feliz, apesar dos problemas

Não me queira por se bela ou somente pelas qualidades
Queira-me também pelos defeitos 
Não me queira como a perfeição
Queira-me com a intensidade dos sentimentos
Queira-me como sou, mulher, simplesmente mulher

Não me queria porque posso ser a melhor na cama 
Não me queira porque posso causar inveja aos seus amigos
Queira-me pelo prazer de estar ao lado de alguém que te fará feliz
Feliz pelo resto da tua vida
Queira-me pelo prazer de ter alguém que te fará sentir como se 
fosse o melhor homem do mundo, apesar dos pesares. 

Queira-me simples e complicada, rápida e devagar
Queira-me por querer o prazer de ser feliz com quem te faz feliz.


Zilane Cristina Andrade
Rio de Janeiro, 05.05.2012

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Soneto do 7. ano

As bonecas adormeceram, Os carrinhos a curva dobraram. Os amigos que aqui ficaram, Todos eles também cresceram. Um adolescente, cheio de tristeza Por não ter mais sua infância, E nem mais toda beleza Da felicidade pueril em abundância. Vou acordar e perceber que cresci. Você não pode mais esconder Que tudo isso eu já vivi. Me sinto outra pessoa, neste mundo ao meu redor. E, finalmente, no meu grande momento, Terei, enfim, meu inteiro amadurecimento. Por Camila, Keren e Nice.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Operário em Construção




Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.

De fato, como podia
Um operário em construção
Compreender por que um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia...
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse, eventualmente
Um operário em construção.

Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
- Garrafa, prato, facão - 
Era ele quem os fazia 
Ele, um humilde operário, 
Um operário em construção. 
Olhou em torno: gamela 
Banco, enxerga, caldeirão 
Vidro, parede, janela 
Casa, cidade, nação! 
Tudo, tudo o que existia 
Era ele quem o fazia 
Ele, um humilde operário 
Um operário que sabia 
Exercer a profissão.

Ah, homens de pensamento 
Não sabereis nunca o quanto 
Aquele humilde operário 
Soube naquele momento! 
Naquela casa vazia 
Que ele mesmo levantara 
Um mundo novo nascia 
De que sequer suspeitava. 
O operário emocionado 
Olhou sua própria mão 
Sua rude mão de operário 
De operário em construção 
E olhando bem para ela 
Teve um segundo a impressão 
De que não havia no mundo 
Coisa que fosse mais bela.

Foi dentro da compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário.
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão
Pois além do que sabia
- Exercer a profissão -
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.

E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.

E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:

Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.

E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.

Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão.
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação
- "Convençam-no" do contrário -
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isso sorria.

Dia seguinte, o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu, por destinado
Sua primeira agressão.
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!

Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras se seguiram
Muitas outras seguirão.
Porém, por imprescindível
Ao edifício em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.

Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo vário.
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
- Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.

Disse, e fitou o operário
Que olhava e que refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
O operário via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!

- Loucura! - gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
- Mentira! - disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.

E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão.

Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão.
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.


Vinícius de Moraes

terça-feira, 27 de março de 2012

Saudade

Sentimento interessante...
É doloroso e confortante ao mesmo tempo.
 Sempre nos queixamos de nossa rotina de mesmice,
Mas, quando finalmente a mudamos, 
Nos sentimos deslocados.
E é aí que ela vem...
 Nostalgia também podemos chamar-lhe.
 Ah! Bons tempos de risos, de amores, de choros...
 Enfim... de mesmice.
 Não damos o devido valor às coisas que passam pela nossa vida,
 Por isso devemos dar atenção, nao importando o que for, 
Para o que flua a nosso favor e mesmo àqueles que vão contra nós.
 Mas, pelo menos, ter saudade é uma benção e uma maldição,
 Pois isso significa que uma vez já tivemos - ou vivemos -
 Algo com o que nos importamos, 
Mas de que, infelizmente, tivemos de nos separar.
Portanto, aproveite! Não se arrependa! 

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Soneto da Folia



Coração pulsando acelerado
E mente entorpecida.
O ritmo quente, mesmo que não iniciado,
Já convoca minh'alma à avenida.

Olhos e bocas, corpos em ebulição...
Na batida acelerada da vida,
Em cada esquina, uma saída,
A cada dois passos, uma nova paixão.

Aqui não há lágrimas
E a tristeza já morreu.
Ficou para trás, mil páginas.

Sorria, esse dia é todo seu!
Ser feliz não faz mal...
Só não ame nada; nada além do carnaval.


Por Thiago Vieira

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Viver de verdade



Enquanto todos jazem em formol,
Acreditando serem espertos,
Observo, feliz, mais um por do sol
Com os olhos bem abertos.

A doce efemeridade do momento
Contrasta com os planos futuros,
Fabricantes de parco contentamento,
Que isolam os homens em becos escuros.

Presos, como animais enjaulados,
Condenam a si mesmos, com destreza,
À pena mais enfadonha aos condenados:
A uma vida inteira repleta de certeza;

Às mesmas atitudes sãs;
Aos mesmos beijos e olhar;
Às mesmas cerimônias das manhãs;
Ao mesmo modo de amar...

Não! Eu não quero novas bocas,
Muito menos outros olhos para olhar.
Quero apenas incertezas, ainda que poucas,
Para nunca deixar de sonhar.


Por Thiago Vieira

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012


"(...) aí você se depara com uma estrela, cadente ou não, e deseja ser tão alto e forte para ser capaz de segurá-la com as mãos e contemplar-lhe a beleza. Mas algo dá errado... 
Tuas mãos queimam ao primeiro contato com o calor que dela emana e gritas desesperado de dor! A esta altura, estás arrependido do estúpido desejo; lamentas as palmas marcadas para sempre... 
Tempos depois, já não és mais alto, muito menos forte, porém já não mais lamentas... Não lamentas porque sabes que foi real e só aqueles que têm desejos realizados podem dizer que sentiram o gosto real de um sonho que se realizou... Quer o sonho tenha deixado marcas positivas ou negativas..."


Por Thiago Vieira

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Método cartesiano




Sim, é real, já não duvido
– Não mais – deste fenômeno, o amor! 
Horas de denso estudo e suado labor
E cá estou eu, em meus pensamentos, perdido.

Neles, dividi você em mil pedaços,
Cada qual acompanhado de uma sensação,
E pude, calmamente, refazer os passos,
Que levaram ao descompasso meu sempre cético coração.

Analisei o teu sorriso,
E lembrei-me de como ele estampa a minha memória
Tal qual, dos gregos, o belo friso,
Deixado a nós para contar a sua rica história.

Analisei o teu beijo,
Mas não consegui do sabor me lembrar,
Já que, no ápice do desejo,
A luz do sol sempre teimou em me despertar.

E assim se passaram os dias,
Entre cálculos e xícaras de café,
- Na maior parte do tempo, frias - 
Porém, finalmente, lá estava você, de pé.

Sintetizada por inteiro,
Após minuciosamente estudada,
Jazias ali, calada,
Como produto de um todo verdadeiro.

Ficaram, então, as seguintes conclusões:
 Não há sentimento pela metade...
Ou se está vazio ou inteiro, de verdade,
Para evitar futuras decepções.

Um segundo já é suficiente,
Quando se busca no infinito
A materialização do rito
Que cada coração desenha na mente.

E como comentário final,
Se eu fosse questionado
Sobre o quanto estou apaixonado
Não seria capaz de responder com um número real.



Por Thiago Vieira




Cheiro de amor