Vivendo ...

"Todo o homem saudável consegue ficar dois dias sem comer - sem a poesia, jamais."

Charles Baudelaire

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Seria você...

 
E acordou de mais um sonho;
De mais um conto de fadas
- Sem fadas enfadonhas, é verdade -
Escapou, mas, claro, ferido...
Na mancha mágica de sangue em sua camisa
Ainda sente-se o cheiro inebriante
Da fantasia,
Ingrediente fascinante,
Mas que com a realidade não condiz...
Adormeceu...
Não se sabe para onde vai...
Se pudesse, lhe diria:
Jamais lá ponha os pés,
Não nesta terra de fantasia...
Lhe diria:
Lá não há alegria;
Não há seres de coração...
Se ainda pudesse, ele me diria:
O que seria do amor sem a tal da ilusão?! 


Por Thiago Liebknecht








quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Desistência



Sinônimo de medo e covardia,
Contempla aqueles coitados – pobres! –
Que, por não se sentirem nobres,
Escondem a face do brilho da luz do dia.

Vivem em cavernas de histeria,
Iluminados pela chama da mentira,
Da qual tudo o que se retira
É o ingresso para um mundo de fantasia.

Lá, não evoluem; não lutam!
Aprendem que não existe felicidade;
Que, para ela, passaram da idade!
E, ainda que angustiados, não a disputam...

Ao deixar horrendo buraco,
Vi-me no mundo de feras perdido
E demorei a notar o quão estava iludido.
Eu fui apenas mais um fraco...

Não tardei em arriscar os primeiros passos
E seguir, finalmente, na direção oposta,
Deixando para trás a tristeza imposta
Ao desatar – que me prendiam – os últimos laços.

Diante da primeira provação,
Atravessei mares e escaei montanhas,
Sentindo intensamente cada batida de coração
Que bombeia vida novamente em minhas entranhas.

No fundo de cada oceano explorado
E no cume de cada cordilheira,
o prêmio mais que esperado:
A certeza de que resta-me ainda uma vida inteira.


Por Thiago Vieira

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Não é mais ela...





Agora não é mais ela, é você...
Por que cruzas minha mente tão repetidamente?
Ela não aparece mais,
Mas você parece ter tomado o lugar dela.
E foi de tal forma que nem notei sua presença...
Já era tão normal pensar em ti
E agora qualquer coisa mínima me faz lembrar você!
Não sei descrever essa nossa conexão,
Mas sei que os momentos que vivo,
Sem você, infelizmente,
Me deixam com mais vontade de te ter ao meu lado,
Ou, ao menos, conversar contigo.
Seria paixão? 
Seria uma amizade – 
De tamanha intensidade e valor que cruza as vidas?
A única coisa que peço é que não se vá,
Mesmo que não fique comigo, 
Que fique perto de mim.


Por Lucas Maranhão

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Mademoiselle de Camargo Dancing


 


Um vazio doloroso dominou o salão
Quando a música parou de tocar.
Solitário, pude ver meu reflexo no chão
Antes mesmo de a primeira lágrima derramar.

A orquestra da minha vida quase fora dizimada,
Deixada de lado num escuro canto,
De onde, mesmo descompassada,
Dava ainda o tom do meu amargo pranto.

Eis que ouço o toque dos sinos,
Alertando-me para sua entrada,
Triunfal, porém inesperada,
Regida por doces e alegres violinos.

Estendi-lhe a mão, mas olhaste de lado,
Fingindo não reconhecer o convite para a dança,
Riscando no rosto teu puro sorriso de criança
Ao fugir rodopiando pelo tablado.


Por Thiago Vieira 

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Os amores de van Gogh



Encantam-me seus olhos verdes,
Que combinam com a pele escura
E com a ruiva, que tem fogo na cintura,
E por onde passa sacode as paredes.

Tive o coração revirado
E elas nem mesmo sentiram
Quando, com passo acelerado,
Passaram, fingindo que não me viam.

Nem mesmo o dia dormiu
E lá estavam elas,
Loiras, negras, ruivas, sempre belas.
Gelei quando uma delas me sorriu.

Beijei-a e jurei-lhe meu amor!
Perfumado, belo e eterno seria,
Tanto durante a noite quanto de dia,
Tanto na felicidade quanto na dor.

Quando o sol surgiu,
Junto, algo brotou no coração.
Um vazio, uma tristeza, a solidão...
Um desconhecido sentimento vil.

Sentia angustiante necessidade
De amar alguém novamente,
E me dopar com uma falsa paixão,
Que, no fundo, jamais me trará saciedade.


Por Thiago Vieira




domingo, 6 de novembro de 2011

O fim da escuridão




I


É simplesmente inexplicável, a dor,
Que por meses dividiu minh’alma,
Roubou da respiração a calma
E do corpo levou o calor.
É fato, ainda que deprimente,
Que, não sendo sincero,
Mesmo que com esmero,
O amor, para sempre, não se sente.
Desaparece, deixando apenas vazio,
Às vezes, lágrimas, pena, morte...
Sentimentos ruins de toda a sorte,
Juntos, esquecidos no fundo de um rio.



II

Quando tudo era escuridão,
Permiti-me retirar o capuz
E, ainda trôpego, andar na contramão,
Seguindo o caminho contrário à luz.
Regulei a vida e parei de desejar,
Afinal, se não há sofrimento,
Nada pode me machucar;
Nada pode me trazer tormento.
Desta forma, segui meu rumo,
Pontual, cirúrgico, enfadonho!
Escondi o amor no fundo de um sonho,
No qual, noite após noite, apenas sumo.



III 
 
Olhos secos e não mais esquecidos,
Contemplam agora horizontes desconhecidos.
O medo foi completamente abandonado,
Como se jamais meu coração tivesse habitado.
O teu sorriso é um alento.
Leva a mais profunda tristeza
Com um sopro leve de vento...
Me impressiona tamanha destreza!
É delicioso não ser correspondido.
É como sair no escuro,
Num mar de emoções, perdido,
Sem saber o que achar do outro lado do muro.
Ao invés da inércia da segurança,
Escolho a aventura de me apaixonar.
É bem provável que ainda haja esperança
De um dia poder te conquistar.
Sobre o futuro?
Que se construa a partir do presente,
Pois... Você sente?
À minha volta já não está mais escuro.


Por Thiago Vieira

Medo




Medo é o que sinto. 
E o temo muito.
Tenho medo do real;
Medo do imaterial;
Medo do que possa vir;
Medo que nao possa alcançar;
Medo de que tudo o que já vivi tenha sido apenas uma premonição
E acorde no passado;
Medo de viver tudo outra vez;
Medo de angustiar-me com os acontecimentos
Que, para mim, já aconteceram.
Talvez isso tudo seja um sonho...
Talvez nada disso seja real!
Talvez o destino de todos já tenha sido definido.
Talvez tudo isso já tenha acontecido 
e sejam apenas memórias remanescentes do nada.
Talvez nem eu, nem você, nem mesmo nada exista.
Talvez seja uma reprodução do que ocorreu.
Tenho medo do número imensurável de possibilidades.


Por Lucas Maranhão