Vivendo ...

"Todo o homem saudável consegue ficar dois dias sem comer - sem a poesia, jamais."

Charles Baudelaire

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Velhos amigos

Velhos amigos

Hoje me peguei sozinho, sentado à mesa, quando tive a oportunidade de ter com alguns velhos amigos, os quais não via há algum tempo. O primeiro deles, frio e distante, o desprezo, chegou, como sempre, sem dar muita bola pra mim, que ali já estava. Sentou-se e pediu algo para beber e, quando o garçom perguntou se ele gostaria de um acompanhamento, virou a cabeça e fez que não tinha ouvido.
Contrariado, o rapaz deixou-nos, mas foi surpreendido pela pena, que, antes mesmo de dar de cara comigo, já disputava a cadeira ao meu lado com o esquecimento e a tristeza, que chegara bem antes, mas se fez de distraída até que os outros chegassem.
Tentei falar sobre os meus últimos dias, mas a tristeza logo pediu a palavra e contou os seus feitos grandiosos e dolorosos. Dizia-se adorada por aqueles que estavam em sua companhia e que, na maioria das vezes, era injustiçada pelo simples fato de não ser o tempero ideal para dias agradáveis.
Ao ouvir isso, o amor, apressado em pagar o táxi e se juntar a nós, correu em minha direção e me lembrou dos bons tempos que passamos juntos. Na escola, no primeiro dia na nova classe, no cursinho pré-vestibular, ao encontrar ela... Flertamos com a paixão em vários desses momentos e agora lamentávamos a ausência dela. – A paixão tem andado deveras com a dúvida e isso me irrita profundamente, dizia ele, convencido das razões pelo sumiço da mesma. Ao que eu disse – Nem me fale, velho amigo. É nessas horas que vemos com que podemos contar.
Quando dei por mim, a saudade já estava tomando conta de todas as ações e eu já não podia ouvir o que a razão e a verdade diziam. – Calem-se todos vocês, esbravejei! O medo me olhou torto e abaixou a cabeça, aconselhado pela covardia e pelo ceticismo.
Levantei-me e fui ao banheiro. Lavei as mãos e o rosto. Quando me enxuguei e olhei para o espelho, lá estava ela, a pena. Dessa vez, não para disputar espaço, mas para se despedir. Dizia que já era hora de reconhecer o seu lugar e deixar que outros amigos fizessem o seu papel. Confessei-lhe ter pouco apreço pela nossa relação e não impedi que a mesma deixasse a porta apressada, da mesma maneira que chegou.
Enxuguei as lágrimas e, quando olhei para a mesa, ninguém mais estava lá. – Se foram todos, senhor – disse o garçom, com os olhos brilhando pela gorjeta deixada. Não entendi. Pedi que uma nova conta fosse feita, dessa vez, só para mim, em uma mesa simples.
Abri uma garrafa de vinho e enchi minha taça. Senti meus olhos serem cobertos por mãos gentis e conhecidas. A sua voz era inconfundível. – Paixão?! O que fazes por aqui? Soube do amor que você estava com a dúvida por aí. Falamos por horas. Sobre o céu e a sua cor fantástica de fim de tarde de inverno, sobre as ondas do mar que batiam fortes na arrebentação, provocando uma sinfonia mais gostosa do que as regidas por grandes maestros, sobre a vida e suas pequenas coisas... Era tarde, quando a paixão colocou as cartas na mesa e me chamou pra sair, porém, antes que eu pudesse dizer algo, a dúvida chegou e tirou-a de mim, jogando-a dentro de um carro e sumindo no horizonte. Chorei... Não sei o motivo, mas chorei. Vi o carro desaparecer e não soube se sentiria aquelas mãos gentis em minha face novamente. Não me interessava saber isso naquele momento. Segui em frente e paguei a conta que a paixão deixou. Andei e sumi no horizonte... Pelo menos, me livrei da pena, aquela maldita!


Por Thiago Vieira

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