Vivendo ...

"Todo o homem saudável consegue ficar dois dias sem comer - sem a poesia, jamais."

Charles Baudelaire

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Já dizia Schopenhauer

Objeto pensante da Vontade,
Conduzido por instintos animais,
Os quais tinha por verdade,
Vejo, enfim, que amores não são reais.

Acredito até que o homem sente
Algo forte em relação à caça,
Mas, como em tudo, o desejo passa
E, por necessidade, ele mente.

Engana a si e a outros objetos,
Diretamente ou por intermédio,
Criando amores para matar o tédio
E subjetivando pensamentos concretos.

O jogo não dura para sempre
E é essa nossa sorte,
Pois, antes que digamos "entre",
Apagam-se as luzes com a chegada da morte.


Por Thiago Vieira

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Onde as flores não nascem




Aos céus, te curva
E pede para que o tempo mude;
Para que algum Deus pagão te ajude
E regue teu solo com a sagrada chuva.


Que suas gotas não sejam de pranto,
Salgado, triste e amargurado,
- Disso já provaste um tanto -
Mas sim de licor perfumado.


Inebria-te, tolo, quando a hora chegar!
Não crie regras para a vida,
Pois, quando sentires o tempo passar,
Lamentará cada dose perdida.


Sinta o frescor de um novo amor,
Descendo refrescante pela garganta
E faça dele a sua fonte de calor;
A sensação que a todos encanta.


Alie à reza a dança
 E corre de um lado para outro,
Louco, feito uma criança,
Nunca se contentando com pouco.




Por Thiago Vieira

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Águas perigosas



A faca que envergou meu corpo
Bebeu do meu sangue frio
E, Deus sabe, por pouco,
Não me afoga no fundo do rio.

Para sair de lá, não fazia força.
Me perdi na pressão e profundidade,
Quase perdendo a identidade...
Mas a água feroz virou poça!

Ainda não consigo respirar direito,
Tamanha a ferida no peito,
Porém é possível sonhar.

Na tristeza ou na felicidade;
No esquecimento ou na saudade...
É estupidez parar de nadar.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Des Minesangs Frühling




Ich zôch mir einen valken   mêre danne ein jâr.

dô ich in gezamete   als ich in wolte hân
und ich im sîn gevidere   mit golde wol bewant,
er huop sich ûf vil hôhe   und floug in anderiu lant.


Sît sach ich den valken   schône fliegen:

er fuorte an sînem fuoze   sîdîne riemen,
und was im sîn gevidere   alrôt guldîn.
got sende si zesamene   die gerne geliep wellen sîn!

_______________

Criei por muitos anos    para mim um falcão.
Quando o domestiquei    e o quis segurar então,
e quando enfeitei    de ouro suas penas,
ele voou muito alto    partindo para outras terras.

Desde então mirei    do falcão belo vôo;
sua penugem luzia    de rubro ouro,
cordões de seda levava    nos pés atados.
Deus permita o reencontro    de entes amados.


Por Kürenberger, 1160

terça-feira, 23 de agosto de 2011

O tempo passa...


Fazia mais de um mês
- Sim! Foi a última vez -
Que não te olhava nos olhos
E dizia que te amava.
Foram dias de lágrimas,
Nos quais mais sofri
Tua partida e traição
Do que sorri
À liberdade do meu coração.
Teus beijos, teu toque, tua presença
Regeram cinco anos da minha vida
E acabaram de vez com a descrença,
Mas deixaram em mim imensa ferida.
Chaga esta que ontem foi fechada
Quando, por insanidade, em um lampejo,
Achei querer, outra vez, provar do teu beijo.
Eu estava errada!
Você não me ama!
Nunca me amou.
Se me querias apenas na tua cama,
Saibas, isso é muito mais do que sou!
Faz um dia que me dei conta
De que estou pronta
Para me redescobrir
E não mais me ferir.
Para aprender a amar
Sem deixar me escravizar;
Para viver
Sem conjugar o verbo sofrer.


Por Ana Flávia Cunha

Passos largos




Apressei os passos
E cortei os laços
Que te levavam ao meu coração.
Em vão...
Percebi que, não importa o que faça
Lá estará você, feito traça,
Roendo cada pedaço do meu tecido.
Tivesse eu não te conhecido,
Jamais saberia o que é amor,
Muito menos, ao perdê-lo, sentir a sua dor.
Devo amar-te como um dependente,
Vivendo um dia de cada vez
Para, quem sabe, talvez,
Sem teu frenesi ser contente.
Sofro hoje de abstinência,
Febre, náuseas, demência...
Não sei o que fazer!
Não sei o que dizer!
Só me resta esperar
E torcer para a tormenta passar.


Por Thiago Vieira

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O sol da meia noite



Aconteceu como bem disseste
Naquela noite de sol, mas fria,
Quando a escuridão virou dia
E o vento soprava para oeste.

Eu realmente sobrevivi,
Tanto às tormentas uivantes,
Quanto às dores lancinantes...
Caí, mas, de fato, me reergui.

Não erraste em nada,
Nem mesmo no fim da solidão,
A qual vi minh'alma condenada.

Se te disser que não sofro, minto,
Mas não sei mais definir o que sinto:
Se fim do amor ou início de paixão.


Por Thiago Vieira






"A vida é representada por uma pessoa que entra num trem vazio, onde os trilhos intermináveis são o tempo, os outros passageiros são pessoas que entram na sua vida e podem desembarcar a qualquer momento.

Ou por se distanciarem da pessoa ou por terem sido pegos pelo guarda, a morte,  apenas pelo fato de possuírem a passagem.

O inevitável é fugir eternamente, pois uma hora chega o desembarque. Os atritos das rodas são inconveniências encontradas ao longo da viagem, que abalam em intensidades diferentes a sua vida. Alguns imperceptíveis, outros, fazem aparentar que o trem irá descarrilar."


Por Lucas Maranhão



quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Suma dos meus sonhos!




Maldita!
Maldita mulher que me persegue,
Não importa aonde vou.
Até mesmo nos sonhos,
O que só a mim pertence,
Eis que ela reina absoluta
E submete-me a uma sensação de prazer
Por tê-la ao meu lado, apesar de saber,
Ainda que inconscientemente,
Que não há meio de você me pertencer.
Um mártir eterno de tal intensidade
Que a única coisa que se passa por minha mente,
Quando estou acordado,
É ela!
Deixa eu me ir!
Por que não és como as outras,
As quais deixei de lembrar de forma indolor?
Ter-te por dentro me deixa num frenesi eterno.
Tento esquecer de você, mas,
Aparentemente, gostas de me fazer sofrer,
Apesar de teres me deixado pra trás faz tempo.
Deixa eu me refugiar!
Ao menos nos meus sonhos...
Lugar este onde mais vulnerável estou.




Por Lucas Maranhão

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Mas há mais?

Há mais e não para por aí.
A mais é o que sempre terás.
Ah! Mas...? É a dúvida que morre...
Amais!  É tudo que te peço em troca!


Por Thiago Vieira

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Uma nova estação



Já havia perdido o costume
De mover os olhos para o lado,
Porém, ainda que com cuidado,
Já me sinto atraído por seu perfume.

O vazio preto e branco
Deu lugar a centenas de cores,
Que jogam decepções para o flanco
E colorem histórias de novos amores.

Agora, digo com franqueza,
Já não há mais lugar pra tristeza.
É o início de uma nova era!

Convido-te a bailar, amor,
Nesse mundo novo e livre de dor.
A felicidade primaveril nos espera...


Por Thiago Luiz Ramos Vieira  

domingo, 14 de agosto de 2011

Sorriso orfão



Notei que tenho sorrido,
Até mais do que achava possível
Nestes dias de inverno temível,
Mas, sim, eu tenho vivido.

Uma pena é não poder dividir
Momentos e sonhos fantásticos,
E, ainda assim, a vida seguir,
Auxiliado por gestos acrobáticos.

Entre uma e outra pirueta,
Penso em nós dois
E em como deixamos tudo pra depois.

Caio no chão e me contorço,
Desenhando a minha dor numa careta,
Provando que de nada tem valido tanto esforço.


Por Thiago Vieira

sábado, 13 de agosto de 2011

A eternal sunshine of a spotless mind

Ei! Eu não desisti da vida...
Só estou um pouco fraco,
O que dificulta aceitar o fato
De que para sempre foi tua partida.

Antes eu não quis ver
O que estava na minha frente,
E, para amenizar o meu sofrer,
Tornei-me falho e incoerente.

Fingi que poderia ser amigo
De alguém que sempre foi o meu amor,
Porém, após sete semanas de dor,
Já não posso mais fazer isso comigo.

Não quero mais ouvir
E nem de você saber.
Abdico de todo o sofrimento que poderia vir
Em prol de, feliz, tentar viver.


Por Thiago Vieira

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Eu, Robô





Ainda que tivesse um coração,
Ele não mais bateria,
- Não do jeito que fazia -
Quando eu pegava tua mão.


Tudo o que resta é ferrugem,
Cobrindo minha carcaça de lata,
Ao passo que, quanto mais surgem,
Mais cresce em mim o vazio que mata.


Não tenho sentimentos
E acho que nunca os tive.
Eu nunca soube para que se vive...


Sou eterno e complexo,
E não tombarei nos teus tormentos
Se neles não vejo nenhum nexo.






Por Ana Flávia Cunha e Thiago Vieira



quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Descanso eterno



Corre!
Foge do teu destino,
Maldito menino!
Morre!
Assim,
Quem sabe com sorte,
Terás na tua morte
O melhor possível fim.
Serás esquecido
Tão logo tenhas partido.
Jamais será relembrado.
Fizeste tudo errado!
Idiota!
Feche a porta
E fique no inferno
Com teu sofrimento eterno.


Por Thiago Vieira

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Coração de sorvete

Enquanto fico de joelhos,
E  imploro em prantos pelo amor dela,
Há quem caminhe nessa vida bela,
De estômago vazio e olhos vermelhos.

Olhos que choram porque tem fome
E não porque desejam amar.
O único vazio que se quer saciar
dia e noite, sem parar, o consome.


Bateram à minha porta
E dei-lhes meu coração,
Desta vez, na forma divina do pão,
Alimento simples, mas que conforta.


Tenha a certeza, irmão,
Que, diferente da multidão,
Que faz do desprezo um cacoete,
Este aqui não possui coração de sorvete.






Por Thiago Vieira

sábado, 6 de agosto de 2011

Jamais deixe

Então, amor, aqui estás.
Olho no fundo de tua alma
E a leio como o destino na palma,
Vendo nela que já me deixaste pra trás.

Não há mais lágrimas para verter,
Nem motivos para ficar triste.
Levaste de mim tudo o que existe,
Logo, não tenho nada a perder.

Raios de sol cegam as vistas,
Mas aquecem de algum modo este corpo,
Que, ainda que gelado e torto,
Deve perseguir, da vida, as pistas.

Pode ser que não chegue a achar
Aquilo com o que mais sonho,
Mas, mesmo que seja o destino medonho,
Jamais deixarei de acreditar.


Por Thiago Vieira

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Vida selvagem

O solitário homem sai pela cidade
Na busca diária pelo alimento,
Que às entranhas trará alento
E, ao ego doce, saciedade.

Já não sabe mais o propósito
De sacrificar seu tempo entre feras,
Escapando, dolorido, de suas quimeras,
Se, na fé, já não faz mais depósito.

É um ser em putrefação!
Ainda que vivo e errante,
Nota-se apenas a caricatura distante
De um ser digno e de bom coração.

Enfia-te, nobre ser, no mato,
Onde verá, inegavelmente,
Que não precisa de gente
Para recuperar o teu tato.

Dele, vieste, faminto e cru,
E mesmo após esses anos,
Vivendo entre seres pouco humanos,
Sente-se, entre eles, ainda nu.

Não abandone a vida como ela é!
Não se isole do mundo,
Nem se esconda no fundo
De qualquer vazio sem fé.

Deposite-a toda em você!
Rabisque a tua trilha como queira,
Amanhã, depois ou segunda-feira,
No chão, no céu, no papel marchê...

Faça isso! A vida não é uma cilada!
Ame cada cheiro, planta e animal,
Nunca sozinho, pois, afinal,
A felicidade só é plena se compartilhada.


Por Thiago Vieira

Escalada entre os alpes

"Ainda assim, a última memória triste paira e, às vezes, deixa-se levar como neblina flutuante, interceptando a luz do sol e enregelando a lembrança de tempos mais felizes. Houve alegrias grandes demais para ser descritas com palavras e houve dores sobre as quais não ousei alongar-me; e com isso em mente, digo: escale se quiser, mas lembre que coragem e força são nada sem prudência e que uma negligência momentânea pode destruir a felicidade de uma vida inteira. Não faça nada às pressas; olhe bem para cada passo; e, desde o começo, pense o que poderá ser o fim."


Por Edward Whymper 

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Num ponto de uma vida qualquer

Tomei o primeiro ônibus que cruzou a esquina e segui viagem para o desconhecido. Na verdade, sabia que não estava perdido e nem me perderia, mas estava confuso, afinal, pessoas novas entravam e saiam e eu cedia lugar para outras senhoras, senhores, grávidas e invalidos.
Lá estava eu, sendo levado por uma onda ao misterioso mar para o qual nem desejava ir. Não sei porque entrei no maldito ônibus. Ė feio, escuro e tosco... Mas ainda ė cedo para descer dele.


Por Thiago Vieira

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Drogas

Provei de doses cavalares de felicidade,
E exagerei deveras do amor,
Acordando por vezes sem saudade
Daquilo que conhecemos como dor.

Com elas, superei a tristeza
E para trás deixei meu lado menino,
Driblando as pedras com destreza
Rumo ao concretizar do meu destino.

Estou em total abstnėncia,
Buscando em mim resistėncia
Aos teus encantos, libertina.

Não consigo evitar e me entrego,
E corro por horas num voo cego.
Ao fim, te encontro! Prazer, endorfina!


Por Thiago Vieira

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Para ser diferente

Sinto, amor, assim, dizer-te
Que tudo o que eu tinha no peito
Sumiu, de repente, do mesmo jeito
Que brotou em nosso primeiro flerte.

Não é possivel, com palavras, explica-te
Como um amor doce e juvenil,
Sobrevivente deste mundo cruel e vil,
Das minhas veias já não faz mais parte.

Todos os sorrisos brancos e inocentes,
Assim como a certeza no futuro,
Foram jogados no vazio escuro
E agora jazem ao lado de gestos incoerentes.

Sinto chamar-te ainda de amor,
Mas é o que és para mim,
Ainda que após o duro fim,
Tenhas me privado de todo o seu calor.

Sentimento ignorado e indigente,
Purificado e resignado do erro.
Eis que, enfim, abandonou o desepero
Para provar que pode amar diferente.


Por Thiago Vieira

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Semana de sol

Tomei o meu café gelado
E roí o pão seco e duro,
Deixado há tempos de lado
No fundo de um saco escuro.

Mantive os pelos na cara,
Carrancuda e esvaída,
O que, de certa forma, mascara,
A tristeza profunda vivida.

Ganhei as ruas vazias
Sem agasalho ou proteção
Para minhas mãos frias
Ou meu desolado coração.

Vivendo, sigo tentando,
Pensando calado e só
E dos olhares desviando,
Transformando esperança em pó.

É a melhor semana em cinco!
Penso, não sou mais um aprendiz,
Pois, com propriedade, minto,
Que é possível, sem você, ser feliz.


Por Thiago Vieira