Vivendo ...

"Todo o homem saudável consegue ficar dois dias sem comer - sem a poesia, jamais."

Charles Baudelaire

domingo, 31 de julho de 2011

Costume


Eu me acostumei a pensar diferente;
A deixar pra trás meu lado criança
E apenas olhar pra frente,
Com o dobro de certeza e o triplo de esperança.
Aprendi que a vida nem sempre é justa.
Num dia, o sol brilha, a alegria impera,
No outro, a paz é curta
E a escuridão inicia nova era.
Aprendi que seu sorriso me desmonta,
Tirando de mim felicidade de onde não havia,
Tornando realidade o meu faz de conta
E adivinhando na mosca tudo o que eu queria.
Os dias de costume ficaram para trás.
Partiram num cometa, e vão deixar saudade,
Deixando-me apenas a lembrança do que é felicidade;
Deixando-me a certeza de como é que se faz.
A felicidade que ficou na memória
- Por mais que vire uma página da história -
Me deixa à deriva, à mercê,
Mas me dá a certeza de que é você.
Eu sempre soube.
Eu sempre saberei.
Te amar é o que me coube.
Te fazer feliz todos os dias é o que farei.



Por Thiago Vieira

sábado, 30 de julho de 2011

Sentido


Já não faz o menor sentido
Rezar e pedir por alegria,
Se, ao final de cada longo dia,
Eu queria mesmo é não ter nascido.

É indiferente a cor do meu paletó
E a direção para onde caminho,
Se aqui estou, preso ao meu ninho,
Condenado a passar a eternidade só.

De nada valeram palavras reais,
Que, sem propósito, se perderam
E foram deixadas para trás,
Junto com sentimentos que morreram.

Não consigo mais lembrar-me de sua voz
E nem de como sorriamos antes.
Lembro-me apenas dos vários instantes,
Onde, no meio do nada, só havíamos nós.


Por Thiago Vieira

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Seria


Seria tão bom cair e ficar de pé.
Mesmo que a dor fosse insuportável
E tornasse o nosso coração inabitável,
Teríamos ainda a força do nosso amor e da fé.

Seria perfeito poder simplesmente esquecer
E deixar de lado tudo de bom que se sentiu,
Principalmente, o grande sonho que partiu,
Sem, em nenhum segundo, afrouxar ou amolecer.

Seria lindo ter você ao meu lado,
Agora, amanhã, para toda a eternidade.
Era uma época na qual, até calado,
Eu conseguia provar da felicidade.

Seria perfeito se o futuro fosse uma certeza
E que todas as paixões saíssem da escuridão.
Seria perfeito enxergar tudo com clareza
E deixar pra trás as dúvidas do coração.

Seria perfeito... Mas assim não é o homem.
As coisas boas que juntos vivemos,
De uma hora pra outra, somem,
De um jeito oposto ao que queremos.

Tudo que nos resta é conjugar a desilusão.
Verbos no pretérito, que se foram
Juntam-se a outros, no futuro, que jamais serão,
E não se pode juntá-los antes que de nós corram.

Seria perfeito se o presente fosse o passado
E eu pudesse desfazer agora tudo o que fiz de errado
E não deixasse você partir.

Primeiro os seus olhos, perdidos no horizonte;
Depois, do seu calor imenso sequei a fonte.
Por fim, sem querer, tirei de ti até a vontade de querer sorrir.


Por Thiago Vieira

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Pacto

Acordei e dos pássaros ouvi o canto.
Ansioso, cruzei o portão,
E já não me lembrava do amargo do pranto;
Já não sentia mais dor no coração.

Olhei para as nuvens do céu e sorri.
Contemplei novas formas e novas possibilidades,
Novos meios de encontrar novas verdades,
Porém, assustado, corri.

Tive medo de esquecer você por inteiro;
De, em meio ao meu desespero,
Perder o gosto do que me fazia feliz.

Voltei e vi que tudo estava intacto.
E, firme, renovei comigo o pacto,
De ter você comigo ou ser infeliz.


Por Thiago Vieira

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Eu vejo você


E tudo o que eu vejo são flores.
De todos os amores,
És o único verdadeiro;
És o que preenche o meu corpo por inteiro.
Nos teus olhos vejo a verdade.
Dos teus beijos sinto saudade
A cada hora que passa.
A impressão que passa
É de que és um vicio incontrolável,
Sendo eu um doente incurável
Desta maldita mania de te amar,
E, ainda assim, te amando, me apaixonar...
Por suas manias estranhas,
Subiria montanhas,
Apenas para te satisfazer.
Para não te ver entristecer,
Sumiria do mundo.
Seria apenas um imundo,
Vadio de rua, amigo dos cães.
Apenas um louco,
O que é pouco,
No meio de tantas pessoas sãs.
Por você, eu iria até o inferno
E esganava o capeta.
Morreria na sarjeta,
Sem cobertor no inverno.
Eu tomaria chá de sumiço!
Um perdido, um insano,
Mas o seria porque te amo,
E nada mais do que isso.




Por Thiago Vieira

terça-feira, 26 de julho de 2011

A curva

Me jogava contra teus seios
E, atento, aguardava o tranco;
Abandonei de vez os freios,
Já não mais escondia o pranto.

Toda dor outrora vivida
Hoje já não tem valor.
Teus olhos no momento da despedida
Há muito não vejo no retrovisor.

Ficaram pra trás na primeira curva,
Escondida na neblina calma
De uma manhã triste e turva.

O corpo, as mãos, a canção...
A lembrança faz doer até a alma,
Um segundo antes de parar o coração.

Por Thiago Vieira

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Esperança, o fruto mágico


Magnífico é o seu sabor inconfundível
E esplendoroso o seu efeito inebriante.
Há quem diga que é plausível,
Após seu consumo, tornar-se delirante.

Jamais me deixei levar por contos,
Que por vezes encantam as massas,
Embebedando de graça os tontos
E, mais tarde, relegando-os às traças.

Hoje, porém, não posso negar os fatos.
Andei milhas e milhas desde criança,
E, de lá pra cá, quebrei muitos pactos.

A minha frente, dois copos e uma verdade:
Lambuzo os beiços e a alma de esperança
Ou provo do gosto amargo da realidade?


Por Thiago Vieira

Matemática aplicada


É a soma de todas as dores,
O fim.
Que chega assim,
Devagar, sem poupar amores,
Dilacerando corações,
Jogando ao vento sonhos,
Fazendo de antigas paixões
Esqueletos medonhos,
Que, nem com muito esforço,
Lembram-nos que ali já existiram
Duas almas num só corpo;
Duas histórias que se uniram.
Olhos perdidos e sem vida
Preservam como um mapa
O momento exato da despedida,
Revelando dor semelhante a um tapa,
Derramando lágrimas que não tem sabor.
Ah! Esse maldito amor,
Que mata e arranca a pele,
E até mesmo a felicidade repele!
Nada me resta sem a sua altivez,
Nem mesmo a esperança de, talvez,
Decidir-me entre a própria sorte
Ou entregar-me de vez aos braços da morte.
Entre o desespero e a crueldade,
Fico com os momentos de felicidade,
Esses sim, que vão deixar saudade.
Antes de perder-me na cidade,
Vazia, esquisita, escura,
Cujos becos sujos guardam a verdade mais dura,
A de que não me amas mais.
E aqui, onde tudo jaz,
Vejo apenas um homem arrasado;
Vejo apenas mais um sonho sepultado.

Por Thiago Vieira

domingo, 24 de julho de 2011

7 horas da manhã


Levantei da cama e não vi o seu vestido...
O seu cheiro ainda estava no meu travesseiro,
Quando dei por mim que havias partido,
Deixando um bilhete no espelho do banheiro.

Ali, bem ao lado do barbeador,
O qual não uso desde sua partida,
Contemplo a mensagem jamais lida
E lembro como a mesma me provoca dor.

Entre dias de sol e chuva,
Vejo a vida simplesmente passar,
Veloz, impiedosa e turva...

Nada mais faz sentido.
Você nunca mais vai voltar.
Você jamais deveria ter partido.

Por Thiago Vieira

sábado, 23 de julho de 2011

Vida morta

Por décadas temi a morte, não sabendo o que seria de mim após o meu último e fatídico suspiro. Pode parecer estranho para um homem de 27 anos o sofrimento antecipado e por tantos anos por algo que é simplesmente inevitável e encerra o ciclo de uma vida, nada mais que isso.
Mas a vida, em toda a sua rede de mistérios e revelações, acaba por nos tornar assim. Eu vi avós queridos partir, assim como tios, primos, grandes amigos, conhecidos e mestres amados. Nenhum deles jamais me preparou para a morte, mas todos me prepararam para vida, cada um a sua maneira, o que, de certa forma, só me trouxe mais medo de perder o ar que entra pelos meus pulmões a cada inspiração.
Levantar cedo todos os dias e estudar, assim como trabalhar ou procurar emprego é algo que não nos traz nada, além de um senso de dever cumprido. Mas a paixão, o calor e todos os bons sentimentos que vem junto com as pequenas sensações que tais atitudes provocam estão, quase sempre, mascarados por uma tristeza que não se explica, mas que se sente, profunda e virulenta.
Ao dormir, fechava os olhos e imaginava minha vida sem os meus pais. Era desesperador. Pior do que isso, eu imaginava como seria a vida sem mim. Morrer não estava nos meus planos. Faz tempo que não penso na morte. Não desta maneira. A morte era temida por ser misteriosa. Hoje temo a vida.
Ir para a cama todos os dias e não saber se contemplarei o seu sorriso, o seu toque ou os variáveis timbres da sua voz me deixa louco. O vazio é maior do que a morte. Era mais fácil viver com a incerteza do pós-vida do que com a incerteza do que vem pela frente agora. Esperar os dias passarem em inércia me faz querer desvendar o mistério da morte ainda mais rápido, na verdade, me faz até desejá-la, afinal, se não houver nada do outro lado, não preciso permanecer morto neste.
Entendes o que é isso? Sou eu um fraco por temer a morte ou sou um covarde por não encarar a vida em seus olhos? Não consigo levantar a cabeça, nem consigo cortar os pulsos. Sou um galho preso a uma árvore seca e morta a que chamo de vida, mas não saio dali por comodismo ou pura força da natureza.




Por Thiago Vieira

Carta de despedida

Querida Charlotte,

há muito venho tentando lutar contra os preceitos da sociedade, os quais apenas através de palavras vazias e "leis do povo" mal forjadas dizem ser o meu caminho oposto ao seu.
A verdade, minha cara, é que ninguém te amou mais do que eu te amei e amo. Nem por um segundo dos últimos anos eu tive a menor dúvida disso. Quando você fraquejava, lá estava eu para ser o seu apoio, te mantendo de pé, ou até mesmo o seu monte de palha, para amenizar a sua queda.
Não vou me demorar... Sei que tens mais o que fazer e não podes perder tempo com este garoto bobo. Eu fui alertado por todos. Todos me mandaram desistir e voltar para Hamburgo, onde poderia dar prosseguimento ao meu teatro de marionetes com minha grande amiga Marianne. Mas eu não quis. Eu precisa ouvir de você que não havia mais volta e por isso esperei.
Quando o mensageiro retornou e disse que em breve eu teria uma resposta sua ao meu convite para jantar, senti-me renovado e esperançoso. Passou-se uma hora e nada. A segunda hora foi mais veloz. Quando menos percebi, já haviam se passado seis! Retornei o mensageiro, não uma, mas tês vezes! Sem retorno... Você nem mesmo atendeu o jovem Siegfried, que, com pena de mim, mal pode aceitar seu pagamento.
Estou partindo. Não mais verás o meu rosto pálido ou minhas mãos trêmulas. Minha voz rouca não mais encherá os seus ouvidos. Minha lembrança, em breve, cairá no esquecimento.
Eu podia viver sem nada, Lotte. Sem o seu amor, que me alimentou todo esse tempo, sem seu calor, que me fez suportar o inverno assassino e até mesmo sem os seus beijos, doces e entorpecentes como os vinhos italianos... Mas não viver com o seu desprezo. Precisei chegar aqui, no fundo, para ver que não posso mais cair.
Queime esta carta ou rasgue-a! Seja feliz da maneira que lhe convém!

Com o maior desapontamento do mundo,

W.

Por Thiago Vieira

sexta-feira, 22 de julho de 2011

O curso do Rio

Lá estava ele, como sempre, seguindo a mesma direção. No meio de árvores de verde apaixonante e pedras de silêncio entediante, faz-se senhor das ações e dita o andamento da vida na mata. Seu destino final, o oceano, parece aguardar ansioso pelos seus mistérios e, ao mesmo tempo, revelações.
Hoje, eu pedi licença ao grande Rio e lancei nele todos os sentimentos de que dispunha: joguei nele todo o amor que sinto, assim como toda a tristeza que tem me corroído por dentro; joguei a felicidade em te-la por perto e também a vaidade de querer estar sempre certo; também se foram em suas águas claras a esperança, a descrença, a fé, o ceticismo... Eu fiquei livre de todo e qualquer sentimento! Senti uma ponta de tristeza, confesso, ao ver tudo sendo devorado pela correnteza, como simples barquinhos de papel. Mas já era tarde...
Saí da mata com um vazio que jamais sentira. Eu não portava nada que me desse um Norte, além da bússola na ponta da minha faca... Liguei pra ela... Mas, como o velho Rio e sua corrente, há quem esqueça o que ficou pra trás e apenas olhe pra frente.



Por Thiago Vieira

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Velhos amigos

Velhos amigos

Hoje me peguei sozinho, sentado à mesa, quando tive a oportunidade de ter com alguns velhos amigos, os quais não via há algum tempo. O primeiro deles, frio e distante, o desprezo, chegou, como sempre, sem dar muita bola pra mim, que ali já estava. Sentou-se e pediu algo para beber e, quando o garçom perguntou se ele gostaria de um acompanhamento, virou a cabeça e fez que não tinha ouvido.
Contrariado, o rapaz deixou-nos, mas foi surpreendido pela pena, que, antes mesmo de dar de cara comigo, já disputava a cadeira ao meu lado com o esquecimento e a tristeza, que chegara bem antes, mas se fez de distraída até que os outros chegassem.
Tentei falar sobre os meus últimos dias, mas a tristeza logo pediu a palavra e contou os seus feitos grandiosos e dolorosos. Dizia-se adorada por aqueles que estavam em sua companhia e que, na maioria das vezes, era injustiçada pelo simples fato de não ser o tempero ideal para dias agradáveis.
Ao ouvir isso, o amor, apressado em pagar o táxi e se juntar a nós, correu em minha direção e me lembrou dos bons tempos que passamos juntos. Na escola, no primeiro dia na nova classe, no cursinho pré-vestibular, ao encontrar ela... Flertamos com a paixão em vários desses momentos e agora lamentávamos a ausência dela. – A paixão tem andado deveras com a dúvida e isso me irrita profundamente, dizia ele, convencido das razões pelo sumiço da mesma. Ao que eu disse – Nem me fale, velho amigo. É nessas horas que vemos com que podemos contar.
Quando dei por mim, a saudade já estava tomando conta de todas as ações e eu já não podia ouvir o que a razão e a verdade diziam. – Calem-se todos vocês, esbravejei! O medo me olhou torto e abaixou a cabeça, aconselhado pela covardia e pelo ceticismo.
Levantei-me e fui ao banheiro. Lavei as mãos e o rosto. Quando me enxuguei e olhei para o espelho, lá estava ela, a pena. Dessa vez, não para disputar espaço, mas para se despedir. Dizia que já era hora de reconhecer o seu lugar e deixar que outros amigos fizessem o seu papel. Confessei-lhe ter pouco apreço pela nossa relação e não impedi que a mesma deixasse a porta apressada, da mesma maneira que chegou.
Enxuguei as lágrimas e, quando olhei para a mesa, ninguém mais estava lá. – Se foram todos, senhor – disse o garçom, com os olhos brilhando pela gorjeta deixada. Não entendi. Pedi que uma nova conta fosse feita, dessa vez, só para mim, em uma mesa simples.
Abri uma garrafa de vinho e enchi minha taça. Senti meus olhos serem cobertos por mãos gentis e conhecidas. A sua voz era inconfundível. – Paixão?! O que fazes por aqui? Soube do amor que você estava com a dúvida por aí. Falamos por horas. Sobre o céu e a sua cor fantástica de fim de tarde de inverno, sobre as ondas do mar que batiam fortes na arrebentação, provocando uma sinfonia mais gostosa do que as regidas por grandes maestros, sobre a vida e suas pequenas coisas... Era tarde, quando a paixão colocou as cartas na mesa e me chamou pra sair, porém, antes que eu pudesse dizer algo, a dúvida chegou e tirou-a de mim, jogando-a dentro de um carro e sumindo no horizonte. Chorei... Não sei o motivo, mas chorei. Vi o carro desaparecer e não soube se sentiria aquelas mãos gentis em minha face novamente. Não me interessava saber isso naquele momento. Segui em frente e paguei a conta que a paixão deixou. Andei e sumi no horizonte... Pelo menos, me livrei da pena, aquela maldita!


Por Thiago Vieira